quarta-feira, 29 de abril de 2009

Lançamento do Livro Ronda Filipina do Terrugense César Magarreiro.


Capa do Livro

O livro foi Lançado no evento Literatura em Viagem 2009 (Matosinhos) , onde participaram cerca de 40 escritores de diversos paises.

Seguiram-se duas apresentações .
Uma no dia 25 de Abril na Fragata D. Fernando e Gloria em Lisbos (Cacilhas-Almada) e outra no dia 26 de Abril na ria de Aveiro.

Ronda filipina, convida o leitor a viajar para um tempo quase secreto onde se sobrepõem o imaginário e a memoria. Uma narrativa histórica, que o vai situar no século XVII, durante o período da dominação filipina. Altura em que os corsários do Norte de África efectuavam incursões e saques por território europeu. Numa narração ágil e envolvente, o autor cria um universo rico e multifacetado onde as relações entre os indivíduos, bem como a relatividade das ideias sobre o outro, são causa de reflexão. Envolto numa prosa que seduz o enredo assenta num facto verídico ocorrido em 1617, ano em que uma frota composta por oito embarcações de corsários argelinos saqueou a ilha do Porto Santo (Madeira), levando consigo, cativos, para o Norte de África, 900 dos seus cerca de 1000 habitantes. Regra geral, além da pilhagem, a intenção destes corsários não era a de simplesmente escravizar esta gente, mas sim a de pedir por ela avultados resgates aos ocupantes do Reino Português, ao tempo Filipe II de Portugal, Filipe III de Espanha. Paginas lidas com interesse e proveito, um encontro de culturas, ideias, ideais, esforços. Uma aventura vivida num mundo composto por duras realidades, um tempo dominado por crenças, corsários, caravelas, xavecos, desertos, mares, diferentes povos, diferentes religiões, mas os mesmos sonhos e desejos a cumprir.
Temas actuais, portanto. Pirataria e dialogo-inter-religioso.

Um pequeno excerto da obra:

“- Esse não inútil, o de vante – criticou mais uma vez, o outro.

- Qual? Aquele que está mais folgado? – perguntou o jovem, indicando com a cabeça uma corda que se apresentava mais solta que as outras.

- Maldito sejas miserável, mantém-te atento – gritou de novo o velho, tentando disfarçar o afecto que tinha por este seu discípulo.

Mamoun largou então o entrançado de fibras que puxava com ambas as mãos e correu para o outro lado do mastro. Aí, agarrou e esticou o outro cabo, enquanto olhava para a coluna de madeira procurando ver nela e na vela já inchada, os efeitos da sua actuação. Da observação e pensamento, o rapaz passara num ápice à acção. Antes de ser interrompido por Fadil, o velho marinheiro, Mamoun observava as ondas que a embarcação ia deixando na calma superfície deste mar interior. Olhava para a espuma a surgir, quase como por magia, num imenso tapete branco junto à proa do patacho, depois via-a percorrer o costado de vante para ré, para mais tarde se perder nas suaves ondulações deixadas pela longa esteira com que a embarcação ia marcando a superfície da água. Pequenas e íntimas ondas que só a ele pertenciam, já que apenas os seus olhos as viam no vigor do seu nascer, no branco do seu crescer, no seu enrolado viver e no seu suave morrer.

(…)

Os quatro dias seguintes foram de forte e escura tempestade. O vento, a chuva e as ondas do mar, fustigaram sem piedade as embarcações que, apesar da intempérie, não abrandaram nem na marcha nem no vigor das suas intenções.

Durante algum tempo, esta força de oito navios e muitos marinheiros, composta por patachos, xavecos e outros navios redondos de alto bordo, iria percorrer e varrer as águas onde, supostamente, nas suas linhas de aproximação, os navios que se dirigiam para o porto de Lisboa, haveriam de passar durante o seu ansiado regresso a casa. Sabiam que, por esta altura do ano, ainda não era tarde para encontrar no mar, as naus que só agora regressassem da Índia e cumprissem a volta do largo. O malogro viria a mostrar-lhes no entanto a sua negra face. Os oito navios de corsários argelinos, apesar de muito demandarem, nenhuma nau haveriam de encontrar.

Cruzariam as águas de Norte para Sul, de Este para Oeste, mas com nenhum vestígio de navio português haveriam de ter contacto. Nada veriam, nada aconteceria até que, numa alva manhã, o comandante da força, Tapuqua Arraz - profundo conhecedor das ondas, dos ventos e das marés - quebrando o tédio e a rotina desses dias, ordenou que todos os seus navios rumassem para Sudoeste.”


Lançamento em Cacilhas a bordo da fragata D.Fernando e Glória

Lançamento na Ria de Aveiro